"As Mãos que Embalam o Berço
são as Mãos que
Governam o Mundo"
Registros de filha tua em dia 8 Internacional da Mulher.
Ines de Mello
Abri mala pequena, frasqueira com divisórias e cantos. Me apareceu um pente grande com um pouco de poeira, fios de teus cabelos em hibernação, testemunhas vivas de tua ausência., de tua morte. Cabelos sempre sobrevivem depois que o corpo se desfaz.
Revivi teu gesto ao se pentear, cabelos brancos cacheados, esmero e determinação. Me pareceu voltar no tempo ou o tempo voltou em mim e te trouxe bem perto, mistérios presentes a me entontecer, Irene mãe. Você querida, em constante vigília nos meus dias vagamundeantes de torpor do nada saber, certamente a gravitar sobre os canteiros sonhados que não vingaram. Acordo a mente e te seqüestro em passado/presente, mãos, pés, gestos, nariz afiladinho de vestal caída em campo de contundências. Braba vida de incautos arremessos para o quase nada e tu ainda acreditavas.
Quero, mãe Irene, guardar de ti a força do querer. Herdar de ti a crença, o terço, o arquivo de sonhos que eram teus olhos. E depois, um dia entender nossos caminhos de pedras e ardores; nossas mãos marcadas dos cajados que foram se esfolando pelas estradas e encruzilhadas de armadilhas, nossa cumplicidade de umbigo justificando tudo.
Dia abafado de sol quente em estação de inverno pelo avesso. O tempo, dono de tudo, querendo me arquear as costas maduras e ainda nada sei. Apenas assisto ao compasso dos mendigos da luz que desfilam buscas e incompreensões, eu também catando Lilases e Edelweiss em pedra bruta, esperando brotar água limpa nos grotões das minhas saudades e devaneios. Herança tua, rastros teus, Irene.
Registros de filha tua em dia 8 Internacional da Mulher.
Ines de Mello
Tomei conhecimento da obra de Irene Melloneves recentemente graças à uma exposição dedicada a ela em Mateus Leme. Obra encantadora! Do pouco que li, do muito que lerei.
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