domingo, 25 de abril de 2010

ESTEREÓTIPO DE SI MESMO

    Hans Baudung-Grien, 1510
As Tres Idades da Mulher e a Morte
Viena, Kunsthistorisches Museum

Hoje, em uma manhã agradável de outono, ouvi o relato de uma mulher, de meia idade, sobre uma dificuldade que surge neste momento em sua vida. Enquanto ela se adapta buscando se adequar às mudanças inevitáveis da meia idade, o marido, sem o saber, inquieto e atormentado com o passar do tempo, só consegue focar sua vida a olhar para as mulheres jovens. Nada de mais, em principio, olhar para uma jovem mulher, no frescor jovem, pele viçosa, traços suaves, mas...  apenas quase crianças descobrindo o mundo, com uma arma poderosa no corpo, o vulcão adormecido.

Ela angustia-se vendo o parceiro se perder nas fantasias de consumo sexual de mulheres jovens, negando seu momento pessoal e familiar em função do desespero de manter-se no circuito da dança frenética do sexo. funcionando como jovem no universo juvenil da procura de parceiro.

É obvio, enquanto ela tenta sintonizar novos momentos à sua realidade existencial, o outro (o masculino), se angustia, negando ou não aceitando a realidade das mudanças de sua realidade.

Relações assim podem produzir grandes estragos na vida pessoal, desastres familiares e abismos no seio dos casais. Estes, quando poderiam caminhar juntos se descobrem distanciados. Enquanto um tenta sintonizar o presente o outro padece sem perrceber a inútil tentativa de segurar o passado. Já vi essa tragédia existencial em homens oitentões.
E o casal? Um ruma para o futuro e o outro para o passado. Um vai pro norte e o outro pro sul.

Essa triste realidade também atinge mulheres. Não raro vemos mulheres desesperadas tentando apreender a juventude no corpo que amadurece e envelhece, repetindo velhos homens playboys. Sofrem ao perder o poder de sedução, domínio. Tola  e ardilosa vaidade!

Não apenas o corpo envelhece em nós. Com a idade, natural é a maturação, estado em que o espírito se consolida ficando mais consistente e blindado para suportar e superar os desafios das transformações inexoráveis do tempo. Se lidarmos bem com as mudanças e se sintonizarmos o tempo do corpo aceitando suas transformações, as mudanças psíquicas são realizadas de forma suave. Mas quando não nos preparamos ou quando lutamos contra as leis do universo, realizando impedimentos e adiando transformações, mudanças arquetípicas importantes deixam de ocorrer e o individuo acaba se encalacrando num cenário de inadequação entre o que se tornou e a realidade do que é, fora de seu tempo.

É como se o sujeito funcionasse contra si mesmo, produzindo um processo regressivo de imaturidade, Ele tenta travar, paralisar, seu envelhecimento, mas trava seu amadurecimento, bloqueia seus fluxos energéticos, e deforma seu espírito, produzindo desequilíbrios, desajustes, sofrimento, infelicidade e fazendo o corpo padecer. Perde seu eixo.

Essa deformação acaba abrindo espaços para que conteúdos de inconscientes que não foram transformados aflorem à consciência produzindo no sujeito um estereótipo de si mesmo.

É o que podemos perceber nessa modernidade. Ao invés de adultos maduros, velhos perdidos, infelizes que se deixam deformar em função de desejos e paixões não superadas, se fazendo fantoches de um projeto que não se realizou, enquanto abrem mão da dignidade pessoal e existencial.
              
   É o que eu poderia chamar de um Apocalipse espiritual.



  

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